quarta-feira, 6 de junho de 2012

Um lugar ao sol na Monsenhor

A  palavra que definiu a última exibição do Cine Coque na Escola Monsenhor foi: ousadia. Nós que, hesitávamos tanto em levar um longa às escolas, nós que  tanto nos preparamos montando a mostra "Quem você vê" e a desmontamos toda, criando a mostra "Barreiras Invisíveis" - que também não foi possível de ser realizada da maneira como havíamos pensado,  por problemas técnicos - fomos na última segunda-feira ao Coque e exibimos o vídeo "Um lugar ao sol" do cineasta pernambucano, Gabriel Mascaro.

Foi, não só o fato de ser um longa, não só o fato de termos exibido de improviso o que caracterizou a nossa ousadia, mas, principalmente, o tema do filme. Levamos pra gente que mora em casas simples, num lugar que nem saneamento básico tem, um vídeo cuja intenção é apresentar o que pensam pessoas de classe média alta de sua condição de moradores de cobertura.

 É curioso comparar o status que essa condição lhes dá - como o fez Caio - com o estigma que os próprios alunos sofrem. Se para os personagens do filme, o simples fato de escrever no endereço "aptº 501, cobertura" lhes garante um olhar diferente, para os moradores do Coque, escrever "bairro: Coque", também promove um efeito, só que contrário, de fechar portas, de recusar empregos, de associá-los a imagem de marginais.



Foi assim, diante de olhares atentos e outros nem tanto, que a riqueza e futilidade de alguns e outros nem tanto, desfilavam na projeção. A curiosidade que me inquietava - sentada assistindo também pela primeira vez, e me espantando diante da sensibilidade de alguns personagens tão apurada para a estética e tão fria quando se trata de problemas humanos - era de saber o que de fato estavam sentindo aqueles meninos diante daquele filme.

Será que tamanha ostentação poderia feri-los? Será que o alheamento dos personagens às questões sociais  poderia provocar revolta, repulsa, abjeção? Era com isso que eu me preocupava, mas ao mesmo tempo pensava "Mas Maria, eles realmente não pensam isso? A gente (o filme) tá simplesmente mostrando pensamentos que de fato existem". Aí depois eu pensava "Mas, será que provocar repulsa é o que a gente quer?".

Findo o filme, eu pude dimensionar um pouco do que causou a exibição, nos alunos, pelas suas poucas falas: "Ah, aquela mulher era muito metida", "Oxe, a mulher reclama até do barulho das panelas!", "Eu queria ver se ela viesse pra cá pro Coque se ela não ia ficar com medo dos tiros". Umas das alunas disse, surpreendentemente, inclusive, que se admirou porque nem todos eram metidos, mencionou a personagem que fala sobre o egoísmo de nossa sociedade.

Foi  em meio a questionamentos e incitações à reflexão que terminamos a exibição: perguntando se eles tinham mudado sua visão daquela realidade; pedindo pra refletirem sobre o fato de morarem no Coque e verem de longe aqueles prédios; pra pensarem sobre a situação de apatia em relação aos problemas sociais em que vivem essas pessoas; perguntando se eles acham que se aquelas pessoas descessem dos prédios e adentrassem as favelas, mudariam seu pensamento de alguma forma..

 Foi assim, deixando as perguntas no ar que terminamos a ousadia dessa exibição. A última provocação que fizemos foi que eles fizessem cartas-resposta para algum personagem que escolhessem (dinâmica proposta no material pedagógico que veio junto com o filme). Assim partimos, esperando que continuemos a discussão na próxima exibição, quem sabe já com a mostra "Barreiras Invisíveis" pronta?

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