segunda-feira, 28 de maio de 2012
Sobre como a gente aprendeu a se ouvir e a contar com o imprevisível
No início, era bem difícil pra nós escolhermos o tema das exibições. Começamos vendo milhões de longas-metragens sem saber se deveríamos escolher pelo filme ou pela temática. Quase um: quem nasceu primeiro? Ovo? Galinha?
A gente começou pelo o que conhecíamos. Pelos filmes do Coque Vive e pela nossa formação quase que geral em Jornalismo. Em 2012, a diretora da Joaquim Nabuco nos falou da proposta do colégio de, mensalmente, realizar quintas culturais temáticas. Achamos que poderia ser uma boa oportunidade de nos integrarmos mais com o colégio e nos poupava um trabalho: escolher a temática. Foi por isso que, em março, nossa exibição foi sobre Poesia.
Só que, nesse caminho, as nossas necessidades foram aparecendo, se mostrando sem nem precisar que nos esforçássemos pra pensar em temática. Gritando. A gente precisava levar as discussões que estavam inundando - infelizmente só - setores específicos de Recife pra dentro do Coque. Falar dessa cidade que sufoca, que espreme, que quer que todo mundo corra, corra, corra - em seus carros - pelas vias e pelos viadutos. Recife que quer fazer com que a gente acredite que o único tipo de prazer possível é estar dentro de shoppings comprando, consumindo.
Mas essa cidade somos nós também, né? E nossa mais nova exibição queria falar do outro, da gente, de como a gente vê, de como a gente não sabe lidar com o diferente - ou de como a gente até sabe e nem se dá conta. E a gente quis falar de muitos outros: dos anônimos das ruas que a gente cruza, esbarra, nem percebe. Dos índios, dos homossexuais, dos negros. A gente queria falar era de tudo, de como você e eu somos diferentes e de como a gente lida com essa alteridade. De como a gente se aproxima dos iguais, se fecha em nichos e que esse é o caminho mais fácil mesmo - a tal zona de conforto - e de como a gente pode deixar de conhecer tanta coisa, tanta gente, tantos mundos por causa disso.
Nesse caminho de querer ver o outro, apareceram outros, muitos outros que foram expulsos de suas casas numa madrugada pra que passasse uma avenida por lá. Outros que estavam jogados por Recife sem casa, sem seus pertences e sem expectativas pra um futuro mais próximo que fosse. Foi a cidade gritando de novo. Chorando. Crianças contando que os policiais chegaram: "bora, tira as coisas!". A gente foi ouvir essas histórias e na hora de finalizar a organização da exibição, alguém lembrou o que às vezes tá tão na nossa cara que a gente não vê. A gente deixou "Quem você vê" pra depois e fomos falar dessas “Barreiras Invisíveis” que estão tão, tão, tão visíveis.
Só que o imprevisível fez com que a gente precisasse falar do Coque. De novo. Dos filmes do Coque Vive pra um público um pouco diferente que depois a gente conta. Um público que ouviu sobre o Coque e que falou, falou muito.
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