terça-feira, 29 de maio de 2012

Sobre como a gente aprendeu a (se) ouvir e a contar com o imprevisível II


De minha parte – e os meus companheiros de Cinecoque estão aí pra dar opinião diversa – fazer cineclube em escola não é brincadeira. Ou não tem sido, pelo menos. Um ou mais imprevistos sempre dão as caras, antes ou durante as exibições, e a gente que se vire. E tem o próprio desafio da interação com os estudantes. Isso podia desencorajar, isso podia fazer parecer que estou reclamando, mas não é o caso. Acho que, aqui e ali, os imprevistos (sim!) podiam ter sido previstos, mas algo da ordem do que aconteceu na exibição de ontem provavelmente não.
Pela terceira semana consecutiva, ocupamos um horário vago na escola Monsenhor Leonardo Barreto. Na primeira delas, turma completa. Na segunda, o diretor da escola 'liberou' a turma pra escolher se comparecia ou não à exibição, mas tratou de convencer os alunos da importância de ficar. Ontem, o vice-diretor fez o mesmo, mas sem a parte do convencimento. Chegamos na escola e descobrimos que apenas três alunos – admiráveis alunos! - haviam permanecido. Com pesar, tivemos de decidir o que fazer: cancelar a exibição que havíamos preparado para a turma com a qual já vínhamos dialogando ou fazer uma curadoria instantânea e exibir especialmente para a oitava B, turma mais velha que havia restado no colégio àquela hora.
Creio que, na verdade, a turma decidiu por si e devemos agradecer à professora da Monsenhor, cujo nome não lembro agora, que teve a simples e brilhante ideia de perguntar: “vocês querem assistir a um filme?”. Nada melhor do que ouvir. Ela fez isso por iniciativa própria, enquanto ainda pensávamos, e a resposta enfática da turma não nos deixou escolha. Felizmente!
Os meninos da oitava B - de catorze, quinze e até dezoito anos – são ótimos! Na curadoria instantânea, elegemos filmes nossos: “A linha, a maré e a terra”, “Desclassificados” e “Zip”, como maneira de nos apresentarmos e apresentar as discussões que de alguma maneira formam as nossas bases. Falamos do Coque de novo, como disse Alana no bonito texto aí debaixo. Conversamos com eles, então, sobre as mudanças no espaço do Coque, sobre como eles sentiam que eram vistos pela classe média, sobre como era morar no Coque e a relação do bairro com a cidade etc. Eles interagiram o tempo todo, inclusive com palmas depois dos filmes, a ponto de um deles provocar: 'vamo, pergunte mais!'. Valeu muito a pena.
O imprevisível - ele de novo - nos proporcionou uma descoberta. Mudou um pouco o nosso cronograma de exibições, 'impediu' que criássemos ainda mais familiaridade com o terceiro ano, mas abriu mais uma belíssima porta. Podia desencorajar, podia fazer parecer que isso é uma reclamação, mas o que seria do percurso sem essas nuances? E é por isso que esse texto não é escrito em tom de resmungo, mas sim em tom de alegria e gratidão. Também no caso de um cineclube realizado num colégio, ocupar é resistir.


3 comentários:

  1. que bonito!
    fiquei feliz que só de ler isso, de perceber que o que eu senti, não senti sozinha. acho que, apesar dos contratempos, a exibição de segunda foi uma das mais ricas pra gente e pra eles, apesar das bagunças normais das salas de aula, eles tavam muito interessados, querendo ouvir, falar e eles tinham tanto pra falar, né?

    lembrei de Coutinho durante a exibição. Quando Josi perguntou o que nós faríamos se fôssemos presidentes. veio a quebra da resposta de quem tá ali só perguntando. Aquele desconcerto e o sinal tocando.

    e no final ainda teve abraços :)))))))))

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  2. GEnte, Velho, parem de ser lindooooos!!!!!!!!!!!!

    Sério que disseram "pergunte mais"? Que massa!!!

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  3. hahahah
    E fora isso tudo, eles me pareceram muito unidos!
    Boa lembrança, Alana!! Esse finalzinho dava outro texto!!
    Vamos em frente!!!

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